terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Casaco Cinza


Refiz, fiz, farei as malas quantas vezes forem necessárias

E fazendo assim carrego todo peso das roupas mal lavadas nas costas

Amordaçar sentimentos, decepar angústias

Nada disso satisfaz, quando do pensamento carrego algo mordaz


Talvez no final do dia, quando me cansar daquela velha fotografia

Eu peça para alguém forjar uma armadilha

Pode ser algo sutil, sem causar muito horror

Posso me mudar para a vizinha, caso você pense em voltar


De nada vai adiantar, por toda essa vida eu esperar

Talvez eu vire cigana, ou apenas migre para o sul

Há coisas que você não pode entender meu bem

Não posso sequer tocar no assunto


A canção ainda está afinada

Não quero arruinar tudo na última hora

Dance, dance, dance

Se ficar tonto de mais lhe dou a mão


Você irá suportar o abandono no fim

Terá sempre uma cadeira vazia no teatro

Vou sempre assisti-lo de longe

Não quero causar desconforto algum


Mas surgirá o dia, naquele dia

O tesouro vai ser descoberto

Medalhões, coroas de antigos reis

Pode ficar com tudo


Guardei por muito tempo o resquício da cura

Eu achei que nunca iria encontrar

Mas ela estava tão perto de mim

No bolso do seu casaco cinza.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Antônia.


Ela acordara afoita. Sua cabeça doía e seus pensamentos estavam embaralhados. Quisera ela saber o que tinha ocorrido na noite anterior, já não era hora. Buscava algum sopro de esperança com que a fizesse lembrar, mas as tentavas eram inúteis. Chegava a ser engraçado o modo como se movia de uma lado para o outro, pelo quarto. Estava desconsertada e nada mais fazia sentido em sua mente. Ela apenas queria respostas para tão complexas perguntas que circuitavam sua cabeça confusa. Com o passar das horas, sentou-se na beira de sua cama e com uma xícara de café na mão, tentou achar peças para montar o quebra-cabeça enigmático. Levantou-se, largou a xícara em cima da penteadeira e correu atrás de papel e caneta. Sentou em seu confortável sofá e tentou enumerar todos os acontecidos da noite anterior. Antônia fixou seus olhos no papel em branco, era como se naquele momento ela tivesse criado apenas um universo para ela e o papel. Sustentando apenas o desejo de descobrir o que tivera acontecido, começou a escrever. Dentre tantas hipóteses ali inseridas, algumas fariam qualquer pessoa gracejar. Leu e releu várias vezes o papel, a nostalgia foi tanta que teve apenas um questionamento final... Terá sido um sonho louco ou o amor bateu de vez a minha porta?

Antônia II


Cara Antônia, gostaria de dizer-te através dessas míseras linhas o quão és maledicente. Dissimulação é teu sobrenome, displicente o codinome. Sem rodeios vamos ao que interessa-me dizer-te. Em uma noite enluarada, depois do penetrante beijo, foste embora com meu coração pendurado ao teu chaveiro, bandida mascarada. Não pediu-me licença, nem sequer um empréstimo, simplesmente o arrancou do meu pobre peito e saiu sem proferir coisa alguma. Querida Antônia, eu tento lhe entender, mas cada vez que mergulho ao infinito do teu oceano, encontro raras espécies marinhas, nas quais a identificação é impossível de se fazer. Você não faz ideia do que eu sinto por você ladra de corações, estava disposto a lhe dizer tamanhos disparates nesta carta... Mas quando olho para sua foto no porta retrato, chego a esquecer dos meus pensamentos. Toda noite, imagens de teu lindo rosto dançam para mim em marcha acelerada e a lembrança do penetrante beijo volta a fazer-me morada. Quão bom seria se eu pudesse arrancar de mim tudo que sinto por você, mesmo se pudesse não o quereria. Tudo que acontece rápido de mais perde o seu delicioso sabor no final. Tens o dom de alegrar e amargar meu dia, que Diabos fazer se teu espírito virou meu guia? Você ri do que eu digo, acha tolo o que faço, mas nenhum homem em sã consciência faria o que eu faço. Às vezes gostaria que você morasse em outro planeta, pra evitar de virar a esquina de casa e dar de cara com você me sorrindo da calçada. Chega dessa palhaçada, acabarei já com a piada. Juro que tentei ser quase um Dom Juan pra te conquistar, mas não deu em nada, você só me colocou em ciladas. Agora outras Antonias cruzarão meu caminho, e você será a maledicente, displicente e dissimulada que amarei honestamente durante todas as primaveras.

Anjo sem asa


As luzes da cidade se ofuscam sem tua presença

O vazio é completo quando não te sinto por perto

Na escuridão da noite me perco em pensamentos

Minha alma é escura, palavras acabam sem algum sentido.


Aliás não preciso de sentidos para minhas palavras

Tento deixar as coisas fluírem

A cada batida do meu coração te sinto

Quem me dera que esse jogo complexo só me desse alegrias.


Eu te conheço, és metade de um começo sem fim

Teus sorrisos felizmente, não conseguem mais paralisar minha alma

Foste o anjo sem asa da minha enrascada

O príncipe sem cavalo branco que deixou-me aprisionada na masmorra do amor.


Mas do teu jogo infantil livrei-me

Te ganhei pelo cansaço

E hoje tentas reparar o enlace

A dor sumiu e com ela nem em teus sonhos habito mais.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Monstro.

Talvez por possuir um jeito supercial demais, ela escondesse coisas que ele nunca pudesse imaginar. É que ela não suportava o fato de sentir-se sozinha em meio há tantas coisas e pessoas que a rodeavam. Quando chegava a noite, ela sabia que aquele monstro viria aterroriza-lá, e como de costume em toda a noite, ele iria roubar seu sono. Ela olhava por todos os cantos do quarto, e não suportava que nenhuma porta do seu guarda-roupas estivesse aberta. Ligava a televisão, passava por vários canais, e nenhum lhe prendia a atenção, colocava o ventilador no máximo, para que assim, talvez o monstro não gostasse de vento forte e pudesse sumir de uma vez. E isso era constante, os dias passavam, e mesmo quando ela estava acompanhada, o ritual se repetia. Está certo, que várias vezes já ouvira de alguém, que deveria enfrentar seus medos, pois o único jeito do monstro ir embora, era acabando com ele com as próprias mãos. Mas, por outro lado, como acabar com um monstro que você não sabe do que é feito? Não sabe de onde vem, suas características e seus propósitos. Talvez ele nem fosse tão feio assim, ou talvez fosse apenas uma forma que ela criara de poder encarar a vida e seus problemas de uma maneira psicológica menos dolorida. Ou talvez não seja preciso tentar destruí-lo, no mundo dela, ela poderia inventar o tipo de monstro que quisesse, e hora ou outra ela poderia pegá-lo pela mão, e fazê-lo entender que agora os monstros são criaturas boazinhas, e que antes que ele quisesse devorá-la ou fazer mais uma de suas maldades noturnas, os dois poderiam encontrar uma nova maneira de não sentir dor.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ideias flutuantes

São apenas pensamentos esvoaçantes, estes que na maioria das vezes me fogem da cabeça e transitam por entre carros.
Carros, bicletas, desafios, às vezes é desconexo, mas cada um tem seu eixo.
Você acha o seu um dia, e desprende-se do filete de luz que ainda iluminava sua sala vazia. Procuras o sofrimento como se tentasse achar papéis velhos e no fim tudo incinerou-se, e você acaba achando novos papéis com cores alegres e cheirinho de fruta.
Ligando os pontos, é assim que tem que ser, seguir adiante nem sempre é seguir em paz. Mesmo que você viva entre naufrágios e tormentas, a bonança sempre chega.
Depois de um dia de chuva, o cheiro de terra molhada vem, e se você quiser ainda observará o rosa riscado fraquinho dentre as nuvens.
Giz de cera, giz de cor, furta cor. Você pinta a vida, traça seu destino e às vezes quando acha que está deprimido toma alguns goles, fecha a janela e esquece do mundo lá fora.
Busque sua paz interior, ninguém vai encontrá-la por você. Não fuja de sua essência e nem tente parecer o que não és. Você poderá até esconder-se dentro de si, mas nunca fugir do que é real.
A sobriedade sempre pesará, nessa louca roleta você ainda poderá ficar tonto.
Como numa relação simbiótica, viva para o prazer mútuo.